quarta-feira, 20 de junho de 2012

"OLHA PRO CÉU MEU AMOR/ VÊ COMO ELE ESTÁ LINDO".. E EU RECORDO OS FESTEJOS JUNINOS DE CEARÁ-MIRIM, - MAIS ANIMADO E COLORIDO, COMO SE N.SRA. ALI ESTIVESSE COM SEU VESTIDO AZUL E ESTRELAS NOS CABELOS

 O SÃO JOÃO NO VALE VERDE

"Mulé, fale baixim mode os povo num uvirem sinão as veinhas tão c´a fama rim na boca do povo"...
 (Piô e Maroca - contadoras de estórias nos idos de minha infância primeira, no vale verde).

Recordo, com alegria e indescritível emoção, das grandes festas juninas de Ceará-Mirim, preparadas diante da Matriz de N.Sra. da Conceição.
Ainda hoje chego a sentir o cheiro de cravo, canela, do milho cozinhando em grandes latas de querosene. 
Revejo as barracas com as comidas típicas enfeitadas com fileiras de bandeirinhas coloridas e colares de castanhas . 
As bancas das vendedoras de "mangaios", rendeiras tecendo bicos de almofadas de bilros no meio da rua, sanfoneiros, vendedores de grudes de Extremoz., os beijus, cocadas, garrafas de mel de engenho, puxa-puxa, alfinins, pamonhas, canjicas., bolo de milho, pé-de-moleque, tapioca molhada com coco, caldo de cana (hum!!!), rapadura, brotes. O quentão ativando a circulação do povo que não parava de dançar, animadamente! Os folguedos riscando os ares com aqueles sons estridentes, sem os artifícios de hoje - mas essa melodia arribando do chão para o céu, era um som de cidade de interior, principalmente após a execução da banda música abrindo os festejos.
Os dançarinos da cidade e de outros municípios formando as quadrilhas em duas alas: a do cordão azul e a do cordão vermelho. O meu olhar sempre se demorou nas danças, até os dias atuais. Sinto esse fascínio pela beleza da dança, seja qual for a origem, inclusive o forró, que me acende, queima e enaltece com emoção.
Era a oportunidade de duas figuras - Piô e Maroca - que só viviam em casa, sentadas em cadeiras de balanço, na calçada, sarem da toca. E eu, menina, quando as avistava logo gritava: Lá vem Piôooooo e Marocaaaaa"... Elas vinham de mãos dadas, vestidos do mesmo modelo e padronagem,  sandálias rasteiras. Ao me verem suplicavam: "Mulé, im nome do altíssimo, fale baixim mode os povo num uvirem, sinão as veinhas tão c´a fama rim na boca do povo"...
Lembro-me das pessoas se aglomerando, o dobre dos sinos anunciava a missa em homenagem a São João. Festa linda, participativa, festa do povo, das famílias do vale verde, da sanfona de seu "Cíço Preto e seus companheiros de forró", a rabeca do compadre Joaquim Gomes... música era o que não faltava. Dias felizes. Hoje o São João não faz a menor diferença, inclusive conheço as festa de Caruaru - uma beleza - mas, não tem a brejeirice do meu vale, quando Buá (o trem) passava apitando e os passageiros acenando... Saudades dos meus pais, de minha Babá Regina, das músicas, das barracas de comidas típicas, do coce-de-leite, do bolo de milho da neguinha Cicera (cozinheira da nossa casa) que ao avistar uma visita resmungava: Hum! Hum! Tão bem pensando que sou escrava"... E fazia mil maravilhas da gastronomia da época. Saudades dessas saudades... Olho pro céu meu amor! Vejo como ele é bonito! Brilhando numa nuvem de luz, iluminado de estrelas... Cai, cai,balão, aqui na minha mão... A estrelinha estalou no céu de intensa luz Jesus acenou, Maria cantou, o Anjo sorriu! E a terra se vestiu de alegria no São João do vale verde!

Nenhum comentário:

Postar um comentário