LUIZ GONZAGA IN CONCERT
CARLOS ZENS, MARIA DE AGOSTO E CHICO ACARI
CADERNO VIVER - TRIBUNA DO NORTE
Natal, 02 de Novembro de 2012
Canto lírico para Gonzagão- Tádzio França - repórter
Luiz Gonzaga é um clássico por si só. A forma como ele tocou sua sanfona e descreveu em canções as belezas e mazelas do sertão nordestino é pura arte vinda do povo. Uma arte que de tão plural também pode - e deve - ser reinterpretada em outras linguagens. O espetáculo "Luiz Gonzaga in Concert", que será apresentado neste domingo, às 20h, no Teatro Alberto Maranhão, propõe um passeio da obra do 'Velho Lua' pelo canto (lírico) e arranjos refinados da música erudita, mostrando que duas culturas podem conviver no mesmo repertório. O show comemora o centenário de nascimento de Gonzagão, e será lançado em DVD até o fim do ano.
Espetáculo vai virar DVD
Apresentar a obra de Luiz Gonzaga pelo viés da música clássica foi a forma que as produtoras Fátima Leal e Daliana Cavalcanti encontraram de prestar uma homenagem diferente, entre tantas outras, ao artista pernambucano. "A ideia surgiu a partir de conversas com músicos da Escola de Música da UFRN. Todos são admiradores de Gonzagão, e foi pensada uma forma original de homenageá-lo, utilizando instrumentação clássica e canto lírico para uma interpretação diferenciada da obra dele", explica Daliana - que também é cantora lírica.
No palco, um time afinado vai interpretar Gonzagão: nos vocais estarão o veterano Chico Acari, contrapondo o canto regional com o lírico da cantora Maria de Agosto, tendo ainda apoio de Carlos Zens, que além de tocar flauta transversal e sax soprano, vai soltar a voz em duas canções. A banda terá também Rafael Galvão (teclado), Bruno Cirino (sanfona), Kleber Viana (percussão), violino (Leixon Rodrigues) e Egberto Trigueiro (violão). Fátima afirma que a direção musical e artística do show foi realizada coletivamente. Todos os instrumentistas e cantores trabalharam nos arranjos. O cenário contará com projeções e luzes que vão contextualizar cada música.
O contraponto clássico ao regionalismo de Luiz Gonzaga em "in concert" será a inserção de músicas de Heitor Villa-lobos. As músicas também serão entremeadas com poesias. O show está dividido em dois atos. No 1º ato, "Alvorada Nordestina", o tom regional domina em músicas como "Estrela de ouro", "Estrada de Canindé", "Forró no escuro", "Xote das meninas", "Sabiá", "Acauã", "Assum preto", "Légua tirana", e dois poemas de Patativa do Assaré, "Milagre da seca" e "A triste partida". No 2º ato, "Luar do Sertão", Gonzagão divide espaço com Villa-lobos, em "Sanfona branca", "Dança dos tarairus/Trenzinho caipira", "Melodia sentimental", "Bachianas nº 5", "Roendo unha", "Asa branca", "A volta da asa branca", "A morte do vaqueiro", "Vida de viajante", um poema de Júlio Oliveira, "Ave Maria sertaneja", e uma composição de Chico Acari, "Um abraço ao Velho Lua".
Para Carlos Zens, que toca e canta no tributo, pôr um toque erudito na obra de Luiz Gonzaga não chega a ser uma experiência inédita. Ele lembra que em um disco seu de 2001, "O tocador de flauta", uniu o clássico "Asa branca" com "A primavera", uma das quatro estações de Vivaldi. "Modéstia à parte, ficou muito bonito! A música de Gonzagão é tão bonita e perfeita que uma boa releitura sempre pode ser feita. A versão do Quinteto Violado para "Asa branca", por exemplo, é tão clássica quanto a versão original", afirma. Segundo ele, hoje em dia esse tipo de encontro é mais aceito, não há preconceito. "Juntar Villa-lobos e Gonzagão no mesmo repertório é mostrar que a música deles se equivale em qualidade e importância. Música boa é universal", diz.
Chico Acari tem uma carreira firmada no Rio de Janeiro, sempre mantendo a ponte com a cultura regional. No Rio, cantou em eventos ao lado de nomes como Fagner, Amelinha, Kátia de França e Terezinha de Jesus. Em 1992 participou, no TAM, de um show beneficente chamado "Um abraço ao Velho Lua", em homenagem a Gonzagão. Faz parte do Clube dos Amantes da Boa Música (Clambom) e já se apresentou em projetos Seis e Meia ao lado de Jair Rodrigues, Alcione e Maria Creusa. Já Maria de Agosto é bacharel em canto pela UFRN e atuou no Madrigal da EMUFRN durante 14 anos. É diretora artística do Grupo de Ópera Canto Dell'Arte.
Serviço: Luiz Gonzaga In Concert. Domingo, às 20h, no Teatro Alberto Maranhão. Preço: R$30 (inteiro) e R$15 (estudante). Ingressos antecipados na Ótica Diniz Prime (Midway Mall) e bilheteria do teatro.
Homenagem do novo Museu do Vaqueiro terá Elba e Dominguinhos
Luiz Gonzaga vestiu o chapéu e o gibão de couro há 60 anos, e fez da imagem do vaqueiro um dos ícones nacionais. Sua música foi a trilha sonora oficial do processo. Ele é a inspiração maior para o Forró da Lua e o Museu do Vaqueiro, dois projetos que o produtor cultural Marcos Lopes alinhou e que retornarão ainda mais caprichados em dezembro, para celebrar o centenário de nascimento de Gonzagão.
No dia 1º de dezembro, o Forró da Lua retomará suas atividades na Fazendo Bonfim com um show especial sob o comando de Elba Ramalho e Dominguinhos, dois nomes que conheceram bem o mestre. E no dia 09 do mesmo mês, o Museu do Vaqueiro irá abrir suas portas oficialmente, exibindo todo seu acervo sobre a cultura sertaneja em textos, fotos e peças originais - incluindo um espaço dedicado a Luiz Gonzaga, difusor maior dessa cultura a nível nacional.
O Museu do Vaqueiro é um sonho em que Marcos Lopes trabalha há dez anos. Apesar de ter sido aprovado pela Lei Câmara Cascudo, não conseguiu captação e foi bancado majoritariamente pelo idealizador. Em setembro deste ano, conseguiu um patrocínio da Cosern que possibilitou a conclusão. O local é a reprodução de um típico casarão sertanejo, com um primeiro andar em sótão. O museu tem consultoria da jornalista Angela Almeida, curadoria de Dácio Galvão, arrumação das arquitetas Viviane Teles e Natália Nóbrega, e mais uma museóloga. A cantora paraibana Sandra Belê cantará o hino nacional no dia da abertura.
"Luiz Gonzaga não poderia ser esquecido no projeto, já que ele divulgou a cultura do vaqueiro para o Brasil. Em nível regional, a função foi de Fabião das Queimadas, que cantava o sertão com sua rabeca", diz Lopes. Ele lembra que em 2005 trouxe para o Forró da Lua a filha do Velho Lua, Chiquinha Gonzaga (já falecida). "Foi no mesmo dia em que o New York Times esteve aqui para registrar uma noite de forró no Brasil", ressalta. É história para dançar e apreciar de várias formas.
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